Técnica de corrida
A técnica de corrida foi escolhida para a primeira abordagem por ser considerada por muitos, ao nível das aprendizagens e adaptações no âmbito do Atletismo, um meio de aquisição de determinadas sensações motoras fundamentais à aprendizagem de todos os outros gestos técnicos da modalidade.
Com o intuito de proporcionar aos alunos um ensino de qualidade, os exercícios técnicos desempenham naturalmente uma importante decisão pedagógica (Rolim, 2003).
A corrida é considerada uma tarefa motora de carácter cíclico e de estrutura rítmica variável ou invariável, em que fases de apoio são alternadas com fases de suspensão. Isolando num ciclo de movimento a acção de uma perna podemos distinguir dois momentos na fase de apoio como na fase de suspensão.
Após o contacto do pé com o solo devem observar-se duas acções distintas:
- Uma anterior, dirigida da frente para trás, com o objectivo de provocar uma passagem, tão rápida quanto possível, do corpo pelo apoio;
- Uma posterior, dirigida de trás para a frente por extensão da perna, que provoca a projecção do corpo para a frente.
A estas duas acções segue-se a fase de suspensão até se iniciar idêntico movimento da outra perna.
Cada passada de corrida compreende quatro fases: Apoio à frente, impulsão, recuperação e balanço.
Após a perda de contacto com o solo, a perna realiza uma acção circular, que é habitualmente decomposta em balanço atrás e balanço à frente.
A perna está flectida durante a fase de recuperação; O joelho eleva-se para a frente e para cima durante a fase de balanço à frente.
O contacto do pé com o solo deve realizar-se no eixo da corrida, variando a superfície de apoio de acordo com a intensidade de corrida. Assim, para uma intensidade máxima o pé toma contacto pelo terço anterior do seu bordo externo, enquanto que para intensidades média e fraca o apoio tende a ser realizado sobre a região externa do metatarso e do tarso.
Fase de apoio: apoiar o terço anterior do pé na fase de apoio à frente; Extensão total das articulações do tornozelo, joelho e coxa durante a fase de impulsão.
Os exercícios descritos para o desenvolvimento da técnica de corrida são inúmeros:
· Skipping baixo, médio e alto;
· Tic-tics;;
· Skipping nadegueiro ou atrás;
· Movimento dos MS a 90º parado;
· Saltitar simples;
· Corrida saltada;
· Skipping baixo para skipping alto;
· Skipping assimétrico (baixo ou médio + médio ou alto);
· Skipping progressivo de baixo até à corrida;
· Corrida em velocidade progressiva;
No entanto, devido à complexidade de alguns deles bem como , os mais comummente usados são/serão: (i) os skippings à frente (baixos, médios e altos), (ii) skippings atrás, (iii) passada saltada ou steps e (iv) exercícios combinados simples e complexos.
Velocidade
Entende-se por velocidade a capacidade de executar tarefas motoras no mínimo lapso de tempo, com uma intensidade máxima e com uma duração não superior a 6/8”. Nesta capacidade consideramos distintamente a velocidade de reacção e a velocidade cíclica ou de deslocamento. No desenvolvimento da velocidade de reacção pretendemos que os alunos reajam de forma veloz e explosiva a um determinado estímulo, seja ele de natureza visual ou auditiva. A orientação da estimulação aponta no sentido das partidas de pé, outro dos conteúdos previstos nesta unidade temática. Quanto à velocidade cíclica, ela será desenvolvida no decurso das aulas, sempre inserida em situações de carácter lúdico e visando sempre que as distâncias a percorrer não sejam vistas como um fim mas sim como um meio. A corrida de velocidade, cuja distância a percorrer é curta, é efectuada o mais rapidamente possível.
Na corrida de velocidade existem quatro fases:
1. Partida
2. Aceleração
3. Velocidade máxima
4. Perda de velocidade ou aceleração negativa
Em situação de competição ou na exercitação das partidas, o professor controla os procedimentos da partida através das seguintes vozes de comando:
§ “Aos seus lugares”;
§ “Prontos”;
§ Sinal sonoro; tiro ou apito.
No entanto, podemos dividir as partidas em 2 tipos: (i) partida de pé e (ii) partida de blocos.
i) Partida de pé
A abordagem deste conteúdo entronca no desenvolvimento da velocidade de reacção, sendo que passam a estar presentes neste conteúdo considerações de ordem regulamentar. A partida de pé pode ser dividida em 3 fases:
1. A primeira corresponde à voz “aos seus lugares” que tem como critério uma posição equilibrada estando o peso equitativamente distribuído pelos 2 membros inferiores, numa atitude descontraída, com um pé ligeiramente à frente do outro e o tronco numa posição vertical.
2. A segunda corresponde à voz, “pronto”, há um tensionamento de todo o corpo, tipo mola, onde o seu peso assenta fundamentalmente no membro inferior adiantado. A posição dos membros superiores deve ser simétrica em relação aos membros inferiores. A linha de ombros avança relativamente à linha de partida, criando-se assim um equilíbrio instável a aproveitar no momento da partida.
3. A terceira corresponde ao sinal de partida. Nesta pretende-se um sincronismo entre os membros superiores e inferiores. É necessário criar situações a fim que o aluno não “se levante” logo após o sinal de partida, uma vez que a primeira parte da corrida é realizada em desequilíbrio.
ii) Partida de blocos
À semelhança da partida de pé, a partida de blocos também pode ser dividida nas mesmas 3 fases. Os procedimentos que o aluno tem de ter em conta é que variam:
1. A primeira corresponde à voz “aos seus lugares” e tem como critério a aproximação e colocação dos apoios nos blocos, numa atitude descontraída, com o peso do corpo sobre os 2 apoios e sobre o joelho do apoio da frente que está em contacto com o solo. As mãos deveram já estar na sua posição final, apoiadas predominantemente pelo polegar e indicador.
2. A segunda corresponde à voz, “pronto”, onde há um tensionamento de todo o corpo, tipo mola, passando o seu peso a assentar fundamentalmente sobre os MS apoiados predominantemente nos dedos polegar e indicador. Os MI mantêm a sua fixação nos blocos apoiados pelo terço anterior do pé. A linha de ombros avança relativamente à linha de partida, criando-se assim um equilíbrio instável a aproveitar no momento da partida.
3. A terceira corresponde ao sinal de partida. Os cuidados a ter são em tudo idênticos aos da partida de pé.
Estafetas
A corrida de estafetas possui um grande potencial formativo, por um lado pelo trabalho de domínio sobre si mesmo, de cálculo de velocidades e de domínio de uma técnica – a de transmissão – e por outro por ser uma actividade em equipa em que todos realizam a mesma tarefa, todos são importantes e onde é fundamental o espírito de grupo. Esta pode ser definida como o levar de um testemunho o mais rapidamente possível da linha de partida à linha de chegada, e por isso, evitar uma perda sensível da velocidade nas passagens do testemunho. A passagem do testemunho de um corredor a outro deve obrigatoriamente efectuar-se de mão em mão e em zonas regulamentares de 20 metros (zona de transmissão). Para as estafetas de 4x60m a 4x200m, uma zona de balanço de 10 metros precede a zona de transmissão.
Zona de transmissão e de balanço regulamentares
A técnica específica a ensinar será a descendente, executada sem qualquer referência visual excepto para o início de corrida do receptor do testemunho. Começaremos pelo ensino da pega do testemunho, realizada pela parte posterior do mesmo, passaremos para a transmissão sem referências visuais, apenas sonoras, realizada em corrida lenta ou mesmo a passo, e terminaremos com situações semelhantes mas em velocidade crescente e nas marcas respectivas. Acresce-se que a formação das equipas em situações competitivas deverá ser criteriosa de modo que haja equilíbrio e probabilidades semelhantes de vitória para todas.
Técnica de transmissão do testemunho descendente
Referência visual de início de corrida para a transmissão do testemunho.
Métodos de transmissão Os métodos de transmissão não devem ser confundidos com as técnicas de transmissão. Estes referem-se à táctica que se utiliza na passagem do testemunho referente à mão de entrega e à mão de recepção. Método de transmissão exterior: O atleta que transmite, traz o testemunho na mão esquerda e passa o testemunho para a mão direita do receptor. Após a recepção, o atleta que recebeu faz a mudança do testemunho para a outra mão. Método de transmissão interior: O atleta que transmite, traz o testemunho na mão direita, aproxima-se do atleta que recebe pelo lado de dentro e passa-lhe o testemunho para a mão esquerda. Após a recepção o atleta que recebeu faz a mudança para a outra mão Método de transmissão misto ou de “Frankfurt”: É uma combinação dos outros dois métodos, em que as 1ª e 3ª transmissões são executadas pelo lado de dentro, e a 2ª pelo lado de fora. Os atletas que transportam o testemunho, seguram-no nas curvas com a mão direita e nas rectas com a mão esquerda, não sendo necessário haver mudança do testemunho para a outra mão, do atleta que recebe o testemunho. Descrição Técnica/Critérios de êxito Partida Na análise das estafetas temos que considerar duas partidas, a dos aluno que principia a corrida e a do(s) inicia a corrida após terem recebido o testemunho. - Do aluno que inicia a corrida: § Idêntica à partida para uma corrida de velocidade; § Testemunho seguro entre o polegar e o indicador e envolvido pelos outros dedos. § - Do aluno que recebe: De pé: § O receptor coloca-se em pé, ocupando a parte interna ou externa do corredor, conforme vá receber o testemunho com a mão direita ou a esquerda; § Linha de ombros paralela ao eixo da pista; § Pés orientados no sentido da corrida, um à frente do outro. Agachado: § O receptor coloca uma mão no chão, numa atitude semelhante à partida com blocos, mas sem apoiar os joelhos no solo. 1os passos: § Impulsões completas; § Tronco vai-se endireitando progressivamente; § Cabeça mantém-se descontraída; § Passar rapidamente para o interior do corredor. Velocidade máxima § Manutenção de elevada frequência; § Aumento da amplitude dos passos; § Corrida alta e bem circulada; § Extensão completa dos membros inferiores na impulsão; § Tronco próximo da vertical; § Oscilação controlada dos membros superiores; § Braço e antebraço formam um ângulo de 90º; Corrida de transmissão Tal como nas partidas, aqui também temos que considerar a corrida de quem transmite e de quem recebe. - De quem transmite: § Deve ser reduzida o menos possível a velocidade; § Continuar no seu corredor, até que todas as transmissões tenham terminado; § Não abrandar antes da transmissão estar concluída; § Manter-se junto à linha exterior ou interior da sua pista, conforme o método que utilizar. - De quem recebe: § Continuar no seu corredor, até que todas as transmissões tenham terminado; § Começar a correr 10 metros antes da zona de transmissão; § Concentrar a atenção na marca de partida e no companheiro que dele se aproxima; § Cabeça virada para trás, a fim de reduzir ao mínimo a torção do tronco; § Manter-se junto à linha exterior ou interior da sua pista, conforme o método que utilizar. Transmissão § Membro superior receptor em extensão atrás, alto e ao lado do corpo; § Membro superior transmissor em extensão à frente; § Palma da mão receptora virada para trás, com dedos a apontar o solo; § Transmissão de baixo para cima; § Testemunho entregue com firmeza e segurança na mão do atleta que recebe; § Dar sinal para o colega que vai receber, para ele estender o braço para trás; § Testemunho colocado activamente na mão do colega, entre o polegar estendido e os outros 4 dedos unidos. Erros Mais Comuns Partida - Receptor: § Inicia-se com muita antecedência; § Inicia-se tardiamente. Corrida de transmissão - Receptor § Demasiado lenta; § Estar parado no momento da transmissão; § Correr virado para trás; - Transmissor: § Abrandar antes da transmissão estar concluída; § Interromper a corrida antes do colega agarrar bem o testemunho. Transmissão - Receptor: § Virar-se par trás; § Estender o braço atrás prematuramente; § Receber o testemunho com a mão errada. - Transmissor: § Precipitação na transmissão; § Estender o testemunho demasiado cedo.
Corrida de resistência
Para o desenvolvimento da corrida de resistência, Rolim (2003) sugere como principais objectivos a ser definidos para esta etapa etária os seguintes:
1. Desenvolvimento da resistência aeróbia;
2. Aprender a gerir e a dosear o esforço;
3. Conhecer o seu corpo, potencialidades e limites.
Em função destes objectivos são princípios fundamentais a transmitir aos alunos:
§ A continuidade do esforço;
§ A descoberta do potencial;
§ Uniformidade do ritmo;
§ Escolha da velocidade ideal de corrida.
No que diz respeito à duração do esforço, tempo de 25 minutos é considerado bastante satisfatório. De acordo com o mesmo autor, no âmbito da escola não se justificam tempos superiores.